4) Profetizando (Ministrando) sob o Controle do Espírito
(Cap. 14:26-33)
Vs. 26-33 – Quando os santos estão juntos
na assembleia para o ministério, deveria haver liberdade para vários tomarem
parte conforme conduzidos pelo Espírito (1 Co 12:7-11). Mas existe o perigo de
abusar dessa liberdade, e isso é exatamente o que os Coríntios estavam fazendo.
Quando eles se reuniam para o ministério, um tinha “salmo”, um tinha “doutrina”,
outro tinha “língua” etc. Todos eles
queriam mostrar e contar o que possuíam e clamavam por uma oportunidade de
falar. As coisas eram tão desordenadas que, muitas vezes, uma pessoa na ânsia
de falar, interrompia outra que já estava falando (v. 30). Assim, eles
transformaram suas reuniões em um “vale tudo”. Era uma confusão. O versículo 26
poderia ser livremente parafraseado: “Que fareis, pois, irmãos, que suas
reuniões são um vale tudo?” Este versículo, portanto, não é uma recomendação,
mas uma triste exposição do clamoroso apelo carnal dos Coríntios por uma
oportunidade de falar.
Esse abuso da liberdade Cristã no
ministério não poderia ser atribuído à maioria das comunhões Cristãs hoje em
dia, onde um homem – o Pastor ou Ministro – preside o ministério. Elas não têm
uma ordem de coisas que permita que os vários membros do corpo ministrem a
Palavra como forem conduzidos pelo Espírito. As igrejas na Cristandade não apenas
usaram mal a ordem de Deus – elas a deixaram completamente de lado!
Para corrigir o problema em Corinto,
Paulo disse-lhes que, embora todos pudessem ter algo a dizer, isso não
significaria que todos devessem necessariamente falar. Eles devem esperar a
condução do Espírito de Deus. O Espírito não é mencionado diretamente na
passagem, mas Sua presença e obra estão implícitas no uso da palavra “permita que”[1] (JND) que ocorre 12 vezes nestes
poucos versículos.
Quando o “permita que” é usado em várias exortações do Novo Testamento, refere-se
à necessidade de os santos saírem do caminho, por assim dizer, e permitir que o
Espírito de Deus conduza a nova vida neles em qualquer direção que Ele escolha.
Alguns pensam que a liberdade do
Espírito no ministério é liberdade para os santos falarem nas reuniões em
oposição a ter-se um ministério de um só homem. No entanto, a condução do Espírito não é a liberdade dos
santos de falar como quiserem na assembleia, mas a liberdade do Espírito para
conduzir quem Ele quiser! Assim, não devemos falar a menos que sejamos
conduzidos pelo Espírito a fazê-lo. O problema na assembleia dos Coríntios é
que haviam transformado a liberdade Cristã dada por Deus no ministério, numa liberdade
para a carne.
Alguns pensam que se todo irmão presente
na assembleia falar na reunião de leitura da Bíblia, significa que o Espírito
de Deus teve verdadeira liberdade. Isso também é um mal-entendido. Essa falsa
ideia é às vezes chamada de “ministério de todo homem”. No Cristianismo, todos
são sacerdotes, mas nem todos necessariamente são capazes de ministrar
edificação aos santos pela Palavra. Tal ideia chamada de “ministério de todo
homem”, em essência, nega que o Senhor tenha dado uma variedade de dons. As
escrituras indicam que nem todos os dons são para o ministério público da Palavra.
Alguns deles são para ensinar, pregar, exortar e profetizar, mas outros como
pastorear, ajudar, dar, governar e mostrar misericórdia, etc., são de natureza
mais privada (Ef 4:11; 1 Co 12:28; Rm 12:8). Insistir que todos os santos devem
ministrar a Palavra publicamente nas reuniões é colocar aqueles que podem não
ter dom para isso, numa situação onde poderiam se constranger, e não edificar a
assembleia.
Esses versículos não encorajam o “ministério
de todo homem” na assembleia; nem ensinam que “o ministério de um só homem” seja
a vontade de Deus. Como mencionado, a liberdade do Espírito estava sendo
abusada em Corinto no uso indevido de línguas. A resposta de Paulo é esperar na
condução do Espírito, que se evidenciaria nos irmãos falando “e por sua vez [separadamente]” – isto
é, um de cada vez (v. 27). Amar e cuidar da assembleia, como mencionado no
capítulo 13, faria com que aqueles que falassem tivessem um intérprete, caso
contrário, deveriam “estar calados”
(v. 28). Esta correção condena a prática do assim-chamado “movimento de línguas”
de hoje em dia, onde a maioria da congregação fala em um balbuciar
ininteligível, que imaginam ser o dom de línguas. Eles balbuciam todos ao mesmo
tempo, o que a passagem condena (v. 27). Além disso, uma grande porcentagem
desses que balbuciam são mulheres, o que essa passagem também condena (vs. 29,
34).
Quando se trata de profetizar,
precisamos ser conduzidos pelo Espírito (v. 29). A ordem divina na assembleia é
tal que se o Senhor der algo “a outro,
que estiver assentado”, então este deve esperar até que o primeiro “cale-se” (v. 30). Isso impediria que
os irmãos se interrompessem uns aos outros. Além disso, o apóstolo diz que a
profecia deve ser limitada a “dois ou
três” no máximo, porque os santos só podem receber um tanto de cada vez.
Se uma pessoa é estimulada pela carne, e
se apressa e toma tempo com palavras sem proveito que não edificam os santos,
isso deveria ser interrompido pelo julgamento dos “outros” (v. 29). Esta é uma referência à autoridade administrativa
na assembleia tendo o compromisso de calar uma pessoa pela disciplina do “silenciamento”.
Se uma pessoa pensa que o que tem a dizer é proveitoso e edificante, e insiste
em falar, mas tem pouco ou nenhuma substância e clareza, a assembleia deve
intervir e exercer esse tipo de disciplina divina, pedindo que o irmão fique em
silêncio nas reuniões. Uma assembleia bíblica é responsável por “julgar” o ministério em seu meio.
Como mencionado, a assembleia não é uma
plataforma para a carne. Paulo acrescenta no versículo 32 que “os espíritos dos profetas estão sujeitos
aos profetas”. Isso significa que a pessoa deve saber como exercer o
controle próprio e abster-se de falar em tais ocasiões. Às vezes, ouviremos um
irmão dizer: “Não pude evitar; eu tinha que dizer isso e aquilo...”. O que ele
está realmente dizendo é que não é capaz de controlar seu próprio espírito (Pv
25:28).
[1] N. do T.: Nas versões inglesas KJV e JND é incluído o
verbo “let” (permita). A seguir há uma sugestão de onde ele se encontraria,
numa versão livre dos versículos de 1 Coríntios 14:26-30: “Que farei, pois,
irmãos? Quando vos congregais, cada um tem salmo, tem ensino, tem revelação,
tem língua, tem interpretação; [permita]
que tudo se faça para edificação. Se alguém falar em língua, [permita que] não falem senão dois ou, quando muito, três, e cada um por sua
vez; [permita que] haja um que
interprete; mas se não houver intérprete, [permita
que] esteja calado na igreja, e [permita
que] fale consigo e com Deus. [Permita
que] falem os profetas, dois ou três, e [permita que] os outros julguem; se for dada alguma revelação a
outrem que estiver sentado, [permita que]
cale-se o primeiro.”
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